1 de mai. de 2010

CRONICAS 11

Crônica louca de um estudante estupidamente perturbado e sonolento contando suas histórias inquietantes ocorridas no atelier de design

A vida de um estudante de design é uma coisa engraçada. Acredite, você pode muito bem acordar um dia e dizer: “hey! Quero ser designer”. Sim, por que não? Aí você começa a ver coisas que não via antes. Não, não falo de espíritos. Falo de design. Você começa a reparar em tudo e ver tudo e analisar tudo. Será que isso é possível? Bem...foi assim comigo. E aí? E aí que agora sou estudante de design gráfico do IFPE. Interessante curso. Interessantes pessoas. interessantes salas. “salas?”. Sim. Salas. E uma delas em especial. O atelier.
Todo estudante de design gráfico, do ifpe, que se prese, tem aventuras que rolaram naquele atelier. Momentos de tensão. Momentos de felicidade. Momentos que você tinha que montar uma super embalagem de cd e pensou: “maldito seja eu por querer ser designer”. Momentos que você se sentia o maior profissional do mundo ao mostrar a sua super embalagem de cd ao professor e ele disse: “maravilhoso, rapaz”. Momentos que você se dá conta que tudo era um sonho e que na verdade o professor disse a você: “meio quadradoso demais, não?”. Momentos, momentos, momentos.
Por falar em momentos, lembro de algumas histórias do atelier. Certa vez, um aluno do curso vai ao IFPE algumas horas depois do término das aulas e não havia ninguém pelos corredores do bloco E. Ele vai em direção ao atelier. Escuta um barulho estranho seguido de risadas frenéticas. Acha esquisito. Desce para comprar uma água e se tranqüilizar. Volta então ao bloco E e mais uma vez se direciona ao atelier. Quando chega na porta, nota uma mancha vermelha no vidro. “Sangue?!”, ele pensa. Nesse momento, chega um outro aluno, do instituto, e para ao seu lado.
- Algum problema aí, cara? – o outro aluno pergunta.
- O que?! Problema? – ele responde como um reflexo de seu nervosismo.
- É. Problema. Você ta aí com uma cara de assustado. Tas xeretando o atelier por que? Que é que tu quer?
- Então...vim terminar um trabalho aqui e me deparo com essa mancha de sangue no vidro da porta.
- Sangue? Ta maluco é, meu irmão? – ele retruca passando o dedo na mancha e depois passando na língua. – Isso é ketchup, tabacudo.
- Acho que alguém tem sérios problemas em mirar o ketchup na coxinha, hein?
- Não seja estúpido. Não ta na cara que isso foi feito na gravação de um curta?
- Não?!
- Escuta, cara. Não se meta a engraçadinho comigo.
- Nervosa?
Nesse momento uma pequena briga se inicia. Troca de socos e chutes e cabeçadas e tapas. Um deles é atingido por um dedo no olho.
- Ei! No olho é fuleragem!
O aluno machucado resolve então pegar seu celular e liga para a mãe contando a estória da dedada. Ao terminar a chamada com a mãe, o estudante guarda o celular e sorri malignamente olhando para o outro rapaz. A briga recomeça e logo um dos rapazes acerta um peteleco no mamilo do adversário.
- Ahh, vai jogar sujo, hein?
- Minha mãe quem mandou.
Novamente a briga recomeça. Uma briga que vai se tornando cada vez mais feia. Socos trocados e sangue voando. Chutes trocados e sangue voando. Cada vez mais feia a briga fica. Dentes voando, das bocas dos dois alunos, pelo corredor do bloco E. Cada vez mais feia. Cada vez mais feia. Aí, enquanto brigam, eles trocam xingamentos, impossibilitados de serem transcritos, até que:
- Você não sabe nem dançar YMCA.
- Melhor que você até.
- Quero ver!
A briga é então interrompida por uma disputa coreográfica que logo é interrompida pela chegada do diretor que suspende os dois alunos porque prefere “Earth, Wind & Fire” a “Village People”.
Não sei até onde essa história é verdade. Até porque, venhamos e convenhamos, “Earth, Wind & Fire” não chega aos pés do “Village People”. Certo?

4 de jul. de 2008

CRONICAS 10

Liberdade

Meu pai sempre teve um senso de segurança meio estranho. Saímos de um prédio com vigia para uma casinha numa vila sinistra. Meu pai disse que morar em casa era mais seguro. A primeira coisa que ele fez foi arrumar um Boxer. Acho que a tal segurança que ele tanto falava, não era tão segura assim. Eu ainda era um cotoco de gente de apenas 2 anos, então meu irmão que escolheu o nome. Dog maravilha. Meu irmão era vidrado numa apresentadora de tv.
Quatro anos se passaram. Um mês após eu completar seis anos, meu pai me levou pra casa de uma tia que eu nem sabia que existia.
- Ela tem uma surpresa pra você. – disse o coroa.
- O que é? – perguntei.
- Se eu disser, não será mais surpresa. Tabacudo. – ele respondeu.
Chegamos na tal casa. Uma hora de viagem. Era muito longe lá de casa. Claro. Se fosse perto ela possivelmente não seria uma tia desconhecida. Tocamos a campainha. Uma senhora baixinha e da testa grande abriu a porta:
- MEU DEUS! – exclamou a louca.
- Como vai, Nazaré? – perguntou meu pai.
- Estou ótima, querido. Entrem, entrem.
Entramos.
- Agora deixa eu dar uma apertadinha nas bochechas dessa formosura aqui. – disse ela, enquanto tentava rasgar minha cara.
- Você que é minha tia?
- Mas é claro. Tia Nazaré. – respondeu a doida.
Quando eu dou por mim, sinto uma beliscada na minha pitoca. E então, minha tia exclama:
- PITADA! Atchim.
- Que mulher medíocre. – eu pensei.
Depois dessa sem-vergonhice, ela nos levou para ver a minha surpresa. Andamos por um corredor, até chegar a uma porta de ferro. Paramos na frente da porta. Depois de tanto ver os programas de Sérgio Malandro, concluí rapidamente que atrás daquela porta estava minha surpresa.
- Fecha os olhos, queridinho. – pediu Nazaré.
- Eu? – perguntei inocentemente.
- Fecha logo, porra. – meu pai disse.
Fechei meus olhos. De repente, ouço um terrível barulho parecido com um grito de uma pessoa agonizante. Era a porta de ferro abrindo. Provavelmente. Uma mão morna toca meu ombro.
- Por aqui, querido.
Era Nazaré.
De repente, sinto algo como um bloco de concreto me arremessar para frente.
- Anda!
Era meu pai.
Passei pela porta. Senti uma brisa maravilhosa passar pelos meus cabelos. Provavelmente estávamos numa espécie de terraço. Logo percebo um cheiro estranho. Era ruim, de princípio. Depois de alguns segundos, comecei a achar o cheiro bastante agradável.
- AHH! – eu gritei – O que é isso nos meus pés?
Algo molhado e frio tocou meu pé direito. Era mole. Logo depois, sinto algo peludo roçar no meu pé esquerdo.
- Posso abrir os olhos? – perguntei.
- Abre logo, maricas. – meu pai respondeu.
Abri.
- NOSSA SENHORA! – exclamei.
Eu me encontrava em um grande terraço contornado por flores. E no terraço, havia uns dez filhotes de Boxer. Meu deus. Eram todos lindos.
- Essa era a surpresa. Qual o que você quer? – perguntou minha tia.
- Posso escolher qualquer um? – perguntei.
- Claro. – ela respondeu.
Decisão difícil essa que eu estava prestes a tomar. Eram todos lindos. Havia seis filhotes pretos, três marrons e um mesclado. O mesclado. É claro. Um excluído feito eu.Um fará companhia para o outro. Vai ser ótimo.
- Eu quero aquele ali. – disse para minha tia, enquanto apontava para o mesclado.
- É uma cadela. – ela disse. – A única da ninhada.
- Uia! – exclamei.
Peguei a cachorrinha no colo. Estava animadíssimo. Bastava agora eu escolher um nome. Não. Eu já sabia que nome eu ia dar.
- Escolhe um nome pra ela. – disse meu pai.
- Ela não vai ter nome. Ela é uma solitária, igual a mim. Solitários não precisam de um nome. Solitários são apenas chamados, pelos outros, por xingamentos. Ela não precisa de um nome. A chamarei apenas de cachorra.
- Que seja. Ela não é minha mesmo. – disse meu pai.
Depois de agradecer bastante a minha tia e depois de mais uma pitada, nós fomos pra casa. Mais uma hora de viagem. Não importa. O tempo não importa mais. Agora eu tinha uma companhia. Agora eu tinha alguém pra brincar comigo. Nada mais importava.
Ao chegar em casa, fui logo mostrar a novidade pro resto da família. Foi uma tarde maravilhosa.
Passou seis meses. Seis meses ótimos. Até que uma tragédia aconteceu. Meu pai tomou a cachorra de mim. Disse que ele aceitou ela lá em casa para que virasse um cão de guarda junto com o Dog Maravilha. Merda de pai. Merda de paranóia com segurança. Só teve uma coisa boa nessa história. A cachorra se afeiçoou ao Dog Maravilha. Já comecei a pensar em filhotes. Meu entusiasmo logo passou. É que dois meses depois, um veterinário foi examinar a cachorra, e disse que ela seria estéril para sempre.
Os anos foram passando. E com os anos, veio o crescimento. A cachorra ficou grande. Maior do que eu. Vivia latindo e se amostrando pro Dog Maravilha. Dog Maravilha estava velho. Não tinha mais nada de maravilhoso. Ele estava com câncer. Seu olho direito estava totalmente inchado. Suas pernas estavam fracas. Ele ia morrer. Que pena. Além de ter sido um bom cão, a cachorra o adorava. Acho que ela não agüentaria vê-lo morrer.
Mais um ano se passou. Tinha acabado de chegar da escola, quando fui olhar os cachorros.
- Mais que merda! – eu pensei.
Dog Maravilha estava nas últimas. Estava deitado no oitão. Babando. Não conseguia mais se levantar. A cachorra estava dentro da casinha, dormindo. E eu estava na grade que dá para o oitão. Em pé. Não sei a quantas horas eu estava lá. Perdi totalmente a noção do tempo. Fiquei apenas em pé, observando o Dog Maravilha. Queria fazer algo para diminuir seu sofrimento. Não podia. Eu era covarde demais. Foi aí que, de repente, Dog Maravilha enrijece as patas, urina forte e morre. Eu congelei. Meu coração tinha se reduzido ao tamanho de uma bolinha de gude. Então, a cachorra sai da casinha. Lentamente se aproxima do Dog Maravilha. Cheira seu focinho, derrama uma lágrima e volta para a casinha. A bolinha de gude, que estava no lugar de meu coração, racha.
Dois meses se passaram. Dois meses silenciosos. Não se ouviam mais latidos. A cachorra não mais saía da casinha. Ficava apenas deitada. Alimentava-se mal. Estava visivelmente triste. Na verdade, ela parecia estar esperando algo. Esperando algo para que pudesse ir embora. Todos os dias eu a observava por horas. Tentava descobrir o que se passava em sua cabeça. Queria saber o que tanto ela esperava. Foi então que a situação piorou.
Uma semana se passou sem que ela comesse nada. Então, certa tarde, eu fui vê-la. O céu estava negro. Chuviscava. Uma forte chuva se aproximava. Não importava o tempo. Eu só queria ficar lá com ela. A cachorra, que me foi dada por uma tia cujo nome eu não mais lembrava, estava morrendo. Quando eu a ganhei, decidi que ela não teria um nome por ser solitária. Mas me enganei. Ela não era solitária. Não nasceu para ser uma solitária. E estava preferindo a morte a viver só. Um espasmo veio. Ela sobreviveu. Veio outro e outro e mais outro. E ela sobrevivia. Cada vez mais fraca. Cada segundo que se passava, mais perto da morte ela estava. Por que ela resistia? O que ela queria além da morte? Não agüentava mais ver aquilo. Rios de lágrimas escorriam dos meus olhos. Resolvi ir embora, mas algo se passou pela minha cabeça. Pus a mão em sua cabeça, e disse:
- Liberdade?
Ela me olha.
- Liberdade. É isso. Boa noite, Liberdade.
Liberdade balança seu rabo e dorme. A bola de gude se parte.

17 de mai. de 2008

CRONICAS 9

Uma coisa na vida de um garoto é inegável. É indiscutível. A grandiosa fase da masturbação. Não adianta negar, todos os meninos passam por isso. Nem que seja só uma vez. Uma única vez, ao menos. Afinal de contas, esse membro estranho que carregamos entre as pernas balançando de um lado para o outro deve servir pra outras coisas além de mijar. Era isso. Todos queriam saber os mistérios que se escondiam ali, dentro da cueca. E quando descobríamos, queríamos saber se realmente era bom. Saber se ter um troço desses valia realmente a pena.
Pronto. Estava feito. O menino chega em casa da escola depois de ter visto uma aula sobre sexualidade. Joga a mochila no sofá. Tira rapidamente os sapatos e as meias. Corre pro banheiro dizendo a mãe que está apertado. Tira a camisa e a bermuda. Arreia a cueca de frente para o espelho e olha. Olha para o espelho. Olha para baixo. Olha para o espelho mais uma vez. Era isso. Estava na hora de descobrir as maravilhas ainda não descobertas por ele. E ele começa. Imagina várias cenas calientes com professoras boazudas e mulheres que ele viu em filmes. Imagina cenas de sexo que ele assistiu ao brechar pela porta do quarto do irmão. Tudo para ele vira chama. E o incendeia. Maldição. Acabou. Primeira vez, inexperiência. Não agüentaria fazer aquilo seguidamente. Agora só tinha duas escolhas: deixar aquilo para lá e esperar o tempo imposto pela sociedade para voltar a utilizar seu membro para fins sexuais, ou, iria explorar cada vez mais aquele órgão fascinante.
Eu me decidi. Gostava de desafios. Tinha por volta dos 13 anos e estava louco para sentir aquela experiência novamente. Era ótimo. Só uma coisa poderia ser melhor que aquilo. Sexo propriamente dito. Bem, isso iria demorar um pouco para acontecer. E eu não iria agüentar ficar sem fazer nada durante esse tempo. Me masturbava pelo menos três vezes na semana. Isso durou quase que um mês, até que me decidi. Não tinha imaginação suficiente para continuar com isso até o dia em que experimentaria o verdadeiro sexo. As cenas fortes que me viam a cabeça já estavam sem graça. As professoras sapecas já não me agradavam mais. Precisava de algo vivo. Ou quase isso. Revistas. Era disso que eu precisava. Decidi então comprar uma. Uma pequena. Só para começar.
Ao voltar um dia da escola, resolvi parar numa banca de revistas.
- Espera. – eu pensei – Não posso entrar assim. Tenho que bolar um plano.
Estava feito. Iria ser curto e grosso. Não permitiria que o fiteiro soubesse que essa seria a primeira vez que ia comprar uma revista pornô. Ele pensaria o que? Que eu era um punheteiro inexperiente. Ora bolas. Não deixaria isso acontecer jamais.
- Ei, Moço! – eu falei rispidamente – Me veja aí uma Playboy. E das boas, hein?!
- É pra já. – disse o bom homem.
Ele colocou sobre a revista sobre a bancada. Minha nossa. Que fabulosa foto. Não sabia nem quem era a mulher da capa. Mas, puta merda. Que mulher.
Maldição. Tive uma ereção só olhando a capa da revista. Fiquei nervoso. Minhas mãos começaram a tremer. Eu suava. Não! Não podia vacilar. Tinha continuar firme como eu havia começado.
- To-to-tot-tome a...aqui o dinheiro, moço. – maldita gagueira a minha.
Vacilei. Tinha que concertar a merda. Puxei uma nota de cinco Reais do meu bolso e disse:
- Aqui! E quero o troco, HEIN?! – eu sempre fui um grande ator.
- HAHAHAHAHAHAHAHA – o vendedor riu. – Ta pensando o que, muleque? Isso né revistinha em quadrinhos não. Custa mais do que cinco reais, porra. É Dezinho essa aqui. É uma edição especial, porra.
Maldito. Fui pego pela minha ignorância em conhecimentos de artigos pornográficos. Tinha que pensar numa saída.
- Então guarda essa merda aí que amanhã eu venho comprar! – eu esbravejei.
Eu era um cara durão.
Fui para casa. Estava tremendo. Suando frio. Milhões de pensamentos sem fundamento passaram pela minha cabeça.
- E se o cara da banca conhecer meus pais? E se meu pai tiver me visto na banquinha? Será que alguém me viu? Será que vai passar na televisão?
Eu estava desnorteado. Esbofeteei meu rosto. Precisava me concentrar. O como eu iria arrumar dez Reais até o dia seguinte era a questão mais importante. Pronto. Lembrei de algo fabuloso. Meu irmão juntava dinheiro numa caixinha enfadada embaixo de sua cama. Deveria ter dez reais ali. Ou melhor, cinco reais. Já que eu tinha cinco já.
Ao chegar em casa, percebi algo maravilhoso. Eu estava só. Meus pais estavam trabalhando e tinha um bilhete em cima da mesa avisando que meu irmão chegaria tarde. Tudo estava caminhando perfeitamente. Fui até o quarto do meu irmão.
- Puta merda. – eu pensei – o maldito tem dinheiro demais aqui. Não sentirá falta de quinze Reais.
Quinze Reais. Claro. Não podia perder essa oportunidade. Compraria duas revistas. Assim, iria demorar mais para eu enjoar de uma revista. Era só ficar variando. Pronto. Estava com a grana. Agora era só curtir o resto do dia e ir dormir.
O dia seguinte finalmente havia chegado. Malditas aulas que não terminavam nunca. Pronto. O sinal tocou. Era hora de ir atrás das revistinhas. Estava saindo da escola quase correndo quando eu ouvi alguém me chamando. Me virei. Era Danilo.
- Tou com pressa, Danilo. Tenho que ir logo. – eu disse.
- Oxi, po. Vais aonde? – ele me perguntou.
Danilo era um cara legal. E tinha cara de punheteiro. Resolvi abrir o jogo e contar o que ia fazer.
- Vou comprar uma maldita revista pornô, cara. – eu disse.
- MEEEEEU IRMÃO! Eu vou contigo. Pelo amor de Deus. Deixa eu ir contigo.
- Simbora. Mas, seja discreto.
Seguimos até a banca de revistas do dia anterior. Ele estava lá. O vendedor. Me reconheceu, o sacana. Ótimo. Resolvi ir direto ao ponto.
- Hei, man. – falar em inglês passava segurança. – Quer aquela edição especial da Playboy.
- Trouxe a grana? – O maldito perguntou.
- Ta aqui. Aproveita e me arruma mais alguma outra revista apelona.
Ele as colocou em cima da bancada. A Playboy Edição Especial trazia na capa uma belíssima garota com seios fartos e um corpo violão. A outra revista picante também era uma Playboy. A Playboy da Tiazinha. Puta merda. Que mulher. Já estava puxando o dinheiro do meu bolso para efetivar minhas compras, quando algo medonho aconteceu.
- EITA! EITA! EITA! QUE REVISTAS DO CARALHO! PORRA! TU VAI ME EMPRESTAR, NÉ?! DIZ QUE VAI. POR FAVOR?
Ao ver o vendedor guardando as revistas e dizendo que não vendia revistas para garotinhos, eu me decidi. Daria um tiro na cabeça de Danilo.
- Seu merda. Que parte do “seja discreto” você não entendeu? – eu o perguntei.
- Porra, cara. Foi mal. Eu agüentei o máximo que pude po. Tava quase me masturbando lá. Nunca vi uma coisa como aque...!
Senti minha mão rachar com o tremendo soco que eu dei na cara de Danilo. Provavelmente pegou de mau jeito. Tudo bem. Mesmo com a dor terrível que eu estava sentindo. Me senti quase que realizado com o murro. Danilo saiu chorando em direção de sua casa. Seu supercílio estava cortado. Droga. Minha mão doía muito.
Ao chegar em casa, joguei minha mochila no sofá e corri pro banheiro. Precisava bater uma pra desestressar.
- ARGHT!- eu gritei.
Maldição. Minha mão estava inchadona. Não conseguia nem me masturbar. Droga.
Chamei minha mãe. Fomos no Hospital de fraturas. O médico pediu uma radiografia. Ao ver o resultado, ele disse:
- Bom...você passará 30 dias com o braço imobilizado.
Trinta dias. Trinta dias sem uma maldita bronha. Estava decidido. Precisava virar ambidestro.
O médico terminou de imobilizar meu braço.Nos dirigimos à porta. Minha mãe saiu primeiro. Quando estava passando pela porta, o maldito me puxou. Apontou para o meu braço engessado e disse:
- Cara. Que punhetinha demoníaca essa que tu bateu, hein?
Era um maldito médico metido a engraçadinho.

14 de mai. de 2008

CRONICAS 8

Sempre fui um cara pacato. Detestava brigas. Mas tudo tinha exceção. E eu não fugia à regra. Se fosse necessário dar uns sopapos na cara de algum infeliz, eu daria. Nunca fui do tipo atlético. Quando eu era criança, por exemplo, eu tinha um maldito corpo magricela. Mas sempre fui ágil. Se eu começasse a dar socos, ninguém desviava. Se viessem me socar, eu normalmente desviava e corria. Ninguém me pegava. Eu chamo isso de ser ágil. Outros chamam isso de ser covarde.
Como eu fazia a 3ª série do ensino fundamental à tarde, as minhas aulas só terminavam de noite. E se você quisesse fazer alguma atividade física extra classe, ela começaria às 18h30 e terminaria uma hora depois. E no meu caso, eu tinha que esperar esse tempo nas terças e quintas, porque meu irmão fazia football. Eu normalmente sentava nas arquibancadas da quadra e esperava o treino terminar enquanto conversava com meus amigos Gordo e Tiago. Eram caras legais.
Era uma terça feira, 18h40. Estava eu, o Gordo e Tiago conversando na quadra esperando o treino terminar. Foi aí que algo terrível aconteceu. Me senti estranho. Minha boca estava seca. Minha cabeça doía. Minha glicose estava provavelmente baixa. Estava suando frio. Meu estômago parecia que estava se espremendo.
- Maldição! – eu disse – Estou com fome.
Lembrei logo que tinha trazido biscoitos Negresco num pote de plástico para o lanche. Peguei minha mochila e fui atrás dos meus biscoitinhos. Adorava biscoitos Negresco. Achei o pote.
- Maldição! – disse mais uma vez – Só sobraram três.
Malditos. Nem ouviram minhas reclamações. Tudo bem. Por causa disso não ofereci sequer uma lasquinha de um dos biscoitos. Eu era mau.
Quando já estava terminando o terceiro biscoito, o Gordo olha pra mim.
- O QUE?! NEGRESCOS?! – ele perguntou.
Dei a última mordida restante e disse:
- Pois é. Pois é. Eram Negrescos sim.
- Seu miserável. – ele disse enquanto se levantava e me olhava com olhos sanguinários.
Corri.
Ele correu atrás de mim.
Tiago correu também. Disse que precisava rir.
Minha escola era interessante. Estudava lá desde o maternal, por isso a conhecia com a palma de minha mão. Pena que o Gordo também conhecesse. Saindo da quadra tinha um corredor de pedrinhas com uns canteiros no meio. Era feio. E brega. Tinha uma passarela de concreto para que as pessoas não pisassem nas pedras. Corri pela passarela. As pedras iam me atrapalhar. A passarela dava direto com a cantina. Era ótima ela. Sempre comprava um kinderovo lá. De frente para ela tinham umas mesas e cadeiras típicas de lanchonete americana. Passei correndo sem olhar para trás. Depois vinham os quiosques. Conseguiam ser mais feios que as pedrinhas e os canteiros. E mais bregas também. Eram três no total, enfileirados. Corri por eles fazendo uma espécie de zig-zag. Passei pelo portão menor e cheguei ao pátio principal da escola. Era lá que ficavam a portaria e a secretaria. Lugar sem graça. Só fazíamos brincar de cuscuz lá. É que o piso era quase todo de areia. Perfeito para brincar de cuscuz. Corri loucamente por lá fazendo uma terrível nuvem de areia. Entrei no espaço do pré-escolar. Era vazio à noite e tinha brinquedos interessantes. Pensei em me esconder na velha casinha de criança. Desisti. Estava cheia de morcegos. O pré-escolar inteiro estava cheio de morcegos. Por isso que era tão vazio à noite. Olhei para trás.
- Maldito gordo! – eu pensei.
Ele estava a poucos passos de mim. Sem pensar duas vezes dei a volta no escorrego e refiz todo o caminho no sentido contrário. Se eu não o conhecesse, pensaria que ele estava levando aquilo a sério. Passei pelo pátio principal, pelos quiosques feios e bregas, pela cantina e suas mesas americanas e pelas pedras e canteiros até chegar finalmente na quadra. Parei. Não agüentava mais correr. Subi dois degraus da arquibancada. Tiago chegou logo depois e também subiu dois degraus. Rimos juntos. Ouvi os passos do Gordo.
- Hei, Gordo! Ta bom já. Agüento mais não. – eu disse – Vamos dar uma descansada. Depois continu...!
Droga. O Gordo chegou pulando em cima de mim. Se eu não o conhecesse, pensaria que ele estava levando aquilo a sério. Caí no degrau de concreto. O Gordo caiu em cima de mim.
- Hei, Gor...!
Antes que eu dissesse algo, ele sentou em cima de minha barriga, me tirando o ar, e agarrou meus cabelos. Olhei para Tiago. O maldito estava rindo. Se eu não conhecesse o Gordo, pensaria que ele estava levando tudo muito a sério.
- Hei, po. Tá bom já. Vamos pa...!
Ele chocou minha cabeça contra o concreto. Maldito. Pensava que o conhecia.
Dei logo um gancho de direita na sua bochechona. Me senti batendo num travesseiro.
- Que massa. – eu pensei.
Ele chocou meu crânio novamente contra o concreto. Maldito. Ele estava realmente levando aquilo a sério. Soquei novamente sua bochecha. E continuei socando alternando os punhos. Parecia que estava treinando boxe.
- Que da hora. – eu pensei.
Tenho que controlar melhor meus pensamentos.
Ele bateu minha cabeça no concreto outra vez. Estranho. Não ouvia mais a risada de Tiago. Não ouvia mais o barulho que as chuteiras dos jogadores faziam no piso da quadra. Não ouvia mais os gritos do técnico. Tudo estava parado. Não. Vi Tiago descendo a arquibancada pra ir chamar o técnico. Estranho. As luzes se apagaram. Não. Minha visão que estava turva. Me senti estranho. Minha cabeça doía. Minha boca estava seca. Minha glicose provavelmente estava baixa. Estava suando frio. Meu estômago se retorcia. Droga. Estava novamente com fome.
- AHHHHH! – a dor da pancada veio e eu gritei.
Tiago havia chamado o técnico, que chegou em poucos segundos para segurar o Gordo. Tiago me ajudou a levantar. Passei a mão na minha nuca para checar o estrago. Não sangrava. Que bom.
O treino terminou ali. Não sei que horas eram. Provavelmente não eram 19h30 ainda, pois meu irmão estava puto comigo e dizendo que eu tinha atrapalho seu treino. Ele era um maldito mesmo. Ao chegar em casa, tomei um banho e dormi.
Era quarta-feira. 13h30. Estava no colégio e a aula já ia começar. Dessa vez eu decidi comprar o lanche na cantina. O Gordo chega.
- Olá. – ele diz para mim.
- Olá. – eu respondo.
- Como estão as coisas?
- Estão boas. E contigo?
Tiago chega.
- Opa opa. E aí caras?
- E aí, Tiago. – eu digo.
- Ohopa, Tiago. – o gordo diz.
- Prontos para mais um dia de aula? – Tiago pergunta.
- Jamais. – eu digo.
Rimos juntos. Os três.

11 de mai. de 2008

CRONICAS 7

“O mundo é cruel”. Isso era o que minha professora da 2ª série do ensino fundamental me dizia. Ela dizia muitas coisas. Principalmente coisas que acabassem com os nossos sonhos. Eu a detestava.
No mostre e conte, certa vez, um menino lá da sala levou um chapéu de rodeio que seu pai lhe deu de presente. Dava pra ver em seus olhos brilhando que ele adorou o presente. Ele começou a contar coisas incríveis sobre os rodeios. Falou em como os cavalos pulavam e as pessoas deliravam assistindo tudo da platéia. Eu estava achando um máximo. Alguns meninos trocavam figurinhas e as meninas trocavam papéis-carta enquanto o garoto falava. Eu apenas prestava atenção. Estava achando um máximo. Então, minha professora começou a falar.
- Você é louco ou o que?! Você sabe por um acaso do porque os cavalos pularem tanto?!
- Eles tão pulando pra tentar derrubar o peão. Eles se divertem com isso. – respondeu inocentemente meu colega de classe.
Minha professora então retrucou:
- HA-HA-HA! Você é idiota, não é mesmo?
Uma lagrima desceu pelo olho direito do garoto.
No mesmo instante, todos nós ficamos paralisados. Não mais conversas eram ouvidas. Ninguém mais trocava figurinhas ou papel carta. Ficamos simplesmente paralisados olhando para o garoto.
Minha professora continuou:
- Entenda uma coisa, meu querido. Os cavalos ficam pulando porque algum sacana amarra os ovos do bicho. E amarra mesmo! Com força. Eles estão pulando de dor. Muitos desses cavalos terminam castrados depois desse processo. Imagine se eu pegasse esse elástico aqui em minha mão e amarrasse seus ovos bem apertados. O que você faria além de correr chorando pra sua mamãezinha como o menino mimado e idiota que você é? Hein?!
Mais uma lágrima foi derramada. Dessa vez pelo olho esquerdo do menino. O direito derrama mais uma. Depois o esquerdo novamente. O sincronismo segue até que não dá mais pra diferenciar uma gota de lágrima da outra. Ele não gritou. Apenas ficou ali derramando um rio de lágrimas e tentando segurar o choro.
Não agüentava olhar. Resolvi olhar para o chão. Foi quando percebi que ele havia urinado na bermuda e escorreu até o chão. Pensei em ir lá consolá-lo, mas não consegui. Estava paralisado de medo. Como todas as outras crianças.
Foi a última vez que o vi na escola. Naquela noite eu não dormi.

7 de mai. de 2008

CRONICAS 6

Estava na 2ª série do Ensino Fundamental, quando eu me apaixonei. Ela era linda. Belos olhos, cabelos castanhos não passando do maxilar, belo sorriso, pele branca e lindas sardinhas no nariz. Ela era linda. Mas, por alguma razão, eu era o único que era apaixonado por ela. Os outros meninos da sala, gostavam de uma menina baixinha, com um cabelão e pés e mãos de bebê. Bonitinha, mas nada demais.
Eu e “minha” garota estávamos cada vez mais próximos. Todo trabalho passado pela professora, nós fazíamos juntos. Quando um chegava atrasado, o outro guardava o lugar ao lado. Era ótimo. Nós nos tornamos bons amigos. Chegava então o dia. Era primeiro de Junho quando eu bolei o grande plano: dar um presente para ela no dia dos namorados e pedir ela em namoro. Estava tudo caminhando perfeitamente. Ia dar pra ela um lindo ursinho de pelúcia. Queria dar um perfume, mas minha mãe disse que era muito sério pra idade dela. O dia desejado chega.
Era 12 de Junho, Segunda-feira. Chovia muito, o que me fez chegar atrasado. Pronto. Estava ali, em frente à sala. Era hora da minha entrada triunfal. Eu ia chegar dizendo algo como “aceite essa prova do meu amor por você nesse dia especial” ou “i love you”. Não sabia direito. Tudo bem, na hora eu bolaria algo espontâneo. Fui logo abrindo a porta e dizendo:
- L.....!!!!
Todos me olhavam. Maldição. Minha professora olhou o presente em minhas mãos e disse:
- É um presente pra Mari também?
Mari é a menina das mãos e pés pequenos. Olhei para ela e logo percebi sua banca cheia de presentes. Todos os outros meninos tinham dado presentes para ela.
Olhei para minha menina. Decidi ir até ela mesmo assim.
- Droga! – eu pensei.
Meu corpo não me obedecia. Eu suava e meu rosto provavelmente estava ruborizado. Foi aí que aconteceu algo estranho. Meu corpo começou a se mexer sozinho em direção a Mari.
- Droga! – pensei novamente.
Não conseguia tirar os olhos do meu amor.
Quando dei por mim, estava colado com a banca da menina sensação dos meninos. Meus olhos ainda estavam olhando para a garota que conquistou meu coração. O que diabos estava acontecendo?! Queria sair dali e caminhar na direção do meu sonho. Foi aí que pensei em algo meio obvio, resolvi me declarar de onde eu estava mesmo.
- ...
Droga. Minha boca também está fora de controle. Não sabia mais o que fazer. Foi aí que ocorreu algo que por pouco não me deixa louco.
- Brigada... – disse Mari ao pegar o ursinho de minhas mãos sem nem olhar em meus olhos.
- Maldita – eu pensei.
Meu corpo voltou a me obedecer. Fiquei totalmente decepcionado. Abaixei a cabeça e caminhei em direção a minha cadeira. A cadeira que Luiza guardou pra mim. Bem ao seu lado. Como sempre fazíamos caso algum de nós dois se atrasasse. Fiquei totalmente decepcionado comigo.

28 de abr. de 2008

CRONICAS 5

Certa vez fui ao dentista. Eu o adorava. Eu precisava extrair meu canino de leite, porque o fixo já estava pra nascer. A consulta era às 8h, cheguei dez minutos antes para aproveitar o lugar. Era ótimo. Tinha dois sofás bregas de couro preto e quatro assentos, uma mesinha, no centro da sala, cheia de revistas e uma televisão suspensa no teto por peças de metal. Mas o melhor do local estava atrás do sofá brega que ficava de frente pra entrada. Era uma parede revestida por tacos de madeira. Adorava aquela parede. Se você olhasse bem para ela, notaria a porta secreta. Era uma porta, também revestida por tacos, sem maçaneta. Sempre quis saber aonde ela levaria. Até hoje eu não sei.
Oito horas. Hora da consulta. A auxiliar me chama e eu entro na salinha. Arght! Um cheiro inebriante de flúor, como se tivessem derramado galões dessa substância no chão. Tentei não pensar nisso ou terminaria vomitando. Atrás do birô estava ele, o meu dentista. Sujeito estranho. Tinha uma narina bem maior que a outra. Era um cara legal. Fomos para uma sala ao lado, onde tinha todas aquelas parafernálias de dentistas. Sentei-me na cadeira. A consulta começou.
A primeira coisa que ele fez, foi começar com aquele papo de escovação, pegou uma escova nova, melecou ela naquele maldito flúor e escovou meus dentes. Depois passou o fio dental com força o suficiente para sangrar minha gengiva e dizer que meus dentes estavam mal escovados. Chegou a hora da extração.
Primeiro ele passou uma pomada anestésica e disse que era pra poder aplicar a anestesia local. Não entendi o porque da pomada. Então, chegou a hora da anestesia local. A auxiliar deu a ele uma seringa com o anestésico.
- PUTA MERDA! – eu disse.
Ao ver o tamanho da agulha foi que eu entendi o porque da pomada.
Depois da seringa, ele encheu minha boca com algodão. Havia muitos algodões. Me perguntei para que tantos. Então ele me disse:
- Vou começar a extração. É simples. Girarei seu dente até que ele solte da gengiva.
Percebendo meu olhar temeroso, ele disse:
- Não se preocupe, apliquei uma anestesia no local. Mas se doer é só você falar “pára” que eu pararei, darei um tempo para você se recompor e então prosseguirei com a extração. Ok?
Acenei com a cabeça.
Ele segurou meu dente e começou a girar. Agüentei o máximo que pude e então fui pedir para parar:
- PFÁFA! PFAUFA!! PFAFAUF!!
Agora eu entendi o porque de tantos algodões.
Bati três vezes na cadeira, igual aos lutadores de luta livre. Não parou. Tentei segurar sua mão. Não parou. Chamou a auxiliar e ela me segurou. Tudo ficou escuro e a dor já não mais importava. De repente, o alívio. Tudo ficou claro novamente e eu pude ver meu dentista segurando o canino de leite. Levantei-me da cadeira e saí da sala.
A sala de espera não mais me encantava. Porta secreta idiota. Minha mãe pagou a consulta e fomos embora. Maldito dentista e suas narinas estúpidas.